Esse moço hiperativo é um dos que fazem a cultura popular dos caiçaras paranaenses mais viva do que nunca. Ensina a construir instrumentos, a tocar e fala das tradições culturais da comunidade em que nasceu e foi criado com uma superdose de amor.
Aorélio Domingues é um jovem, como a maioria das pessoas que participam da Associação de Cultura Popular Casa Mandicuéra, um Ponto de Cultura na Ilha dos Valadares em Paranaguá. Neto de fandangueiro, escolheu trabalhar, viver, divulgar e “tocar suas tradições pra frente”. Formado em artes plásticas pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná – EMBAP, o jovem fabriqueiro, depois de ganhar inúmeros prêmios em salões de arte, resolveu voltar às origens e se dedicar em manter viva a cultura caiçara.
Segundo ele. muitas coisas foram sendo esquecidas pelos velhos mestres e existe uma grande dificuldade de resgatar algumas canções. “Mas basta que o mestre ouça um trecho para lembrar e tocar novamente”. “Queremos resgatar algumas canções esquecidas e os pesquisadores que gravaram os velhos mestres poderiam nos ajudar nessa empreitada”, diz com aquela segurança de quem sabe o caminho que precisa trilhar.
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O aprendiz de lutheria (fabriqueiro de rabeca), rabequeiro, violeiro, cozinheiro fandangueiro, romeiro... Denis Lang |
Aorélio é também um dos idealizadores, criadores e diretores da Orquestra Rabecônica do Brasil, para a qual construiu cerca de 40 instrumentos. A orquestra, a 1ª do Brasil, foi viabilizada pela Lei de Incentivo à Cultura de Curitiba e já se apresentou em diversas ocasiões, com o espetáculo Açucena, de música e folclore de Aorélio Domingues, direção musical de Ulisses Galetto e trás além de inúmeros músicos importantes no cenário paranaense, mestres da Associação de Cultura Popular Mandicuera. As músicas tem arranjos de Carla Zago e Rodrigo Melo. Apresenta a cultura caiçara do litoral paranaense, com seus causos, danças, ritos e crenças. Um show multimídia que mostra tradições como a Folia do Divino Espírito Santo, o Fandango, o Boi de Mamão, a Folia de Reis, o Terço Cantado, pela interpretação de uma orquestra formada de adufos, violas, machetes, machetões, caixas, rabecas e rabecões.
As rabecas construídas pelo jovem Mestre Aorélio apresentam um fino acabamento, a delicadeza , o timbre e a leveza de um violino. Seu atelier é completo e ele já construiu instrumentos como violoncelo e contra-baixo. Tem fixação por ferramentos. “Não posso entrar em lojas de ferragens que acabo sempre comprando mais do que podia”. O ofício de “fabriqueiro”, como gosta de chamar, também aprendeu com o avô, de quem herdou a rica cultura caiçara.
Aorélio Domingues considera que é importante ensinar, trazer as crianças para perto das suas tradições, valorizar e incentivar a arte popular dentro da própria comunidade, mas também mostrar lá fora, tirar o ranço de pobreza com que a nossa cultura sempre foi tratada no Paraná.
Não é só por isso que ele não pára. É, talvez, porque a arte da sua comunidade tenha fincado raízes generosas em seu coração. É, talvez, por puro deleite e paixão. É, talvez, porque, de outro modo, seria triste e infeliz.
Silzi Mossato e eu passamos 28 horas - pela segunda vez (a primeira foi na semana anterior) - documentando a atividade da Casa Mandicuéra para o Projeto Interface, através da Kaaruara Editorial e da OSS, de documentação e divulgação da cultura popular brasileira, iniciado pelo fandango.
Leia na postagem abaixo o artigo de Silzi
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